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[PERFIL] Entre margens: o olhar de quem resiste

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A trajetória de Diêgo Sousa — o Inaiê — é um convite a enxergar o poder da arte, da memória e do território como caminhos de cura, consciência e resistência.

© Foto: Mar Pereira

Nas margens do Rio Maranguapinho, em Fortaleza, um olhar transforma cotidiano em poesia. Esse olhar é de Diêgo Sousa, conhecido também como Inaiê — jovem, artista periférico, fotógrafo, ativista e integrante do Coletivo Olhares Marginais e da Rede Reaver, do Projeto Saúde Ambiental, executado pelo Instituto Terre des Hommes Brasil (TdH Brasil), que conta com o apoio das organizações Kindernothilfe e BMZ.

Mas antes de ser Inaiê, Diêgo foi o menino do interior que cresceu entre árvores, matas e o silêncio das tardes longas de Martinópole, que fica ali entre Sobral e Granja, localizadas no interior do Ceará. “Nasci e cresci até os oito anos no interior. Quando cheguei na cidade grande, tudo era diferente — tudo era violento, tudo era perigoso. Eu cresci com a dinâmica do interior, de brincar na mata, de subir em árvore. E, de repente, a vida ficou acelerada demais”, relembra.

Foi nessa travessia entre o campo e o concreto que nasceu a necessidade de olhar o mundo e de registrar histórias de uma outra forma.

Aos 15 anos, ao ingressar no grupo de teatro no Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), Diêgo encontrou algo que parecia faltar: voz. “Eu sempre fui uma pessoa muito observadora. Quando via uma coisa errada, eu não conseguia verbalizar, só guardava pra mim. O teatro me deu essa possibilidade de falar, de existir.”

Ele faz parte da primeira turma do curso técnico em Teatro do CCBJ — uma vitória popular, por agregar o único curso técnico em teatro do estado localizado na periferia do Bom Jardim, ampliando o acesso à formação artística e fortalecendo a potência cultural do território.

Desse primeiro passo vieram outros — o coletivo Revide, o Cedeca, e depois a Rede Reaver. Cada espaço foi um ponto importante, um lugar de escuta, aprendizado e formação política.
Tudo o que eu me entendo hoje como pessoa política, ativista, artevista, vem dessas três bases. Não é sobre educar, é sobre conscientizar. Se não fosse a Reaver, eu não teria me aprofundado como me aprofundei. Foi ela que me despertou pra querer questionar”, conta.

Mas quem é Inaiê? O nome nasceu como um ato de retomada identitária, uma forma de se reconhecer enquanto corpo indígena, mesmo em meio ao concreto.
A escolha de Inaiê foi pensando e me compreendendo como uma pessoa indígena. Como uma ação de retomada, mesmo que inconsciente. Como Inaiê, eu me sinto uma pessoa enxergada pelo mundo. Inaiê é resistência.”

Uma menina finca o pé sobre a pedra como quem desafia o esquecimento. Mesmo cercada pela poluição, seu gesto afirma: estamos aqui, ainda vivos, ainda lutando. © Inaiê/Rede Reaver.

Com uma câmera emprestada do Revide, o olhar de Diêgo se expandiu para o audiovisual e a fotografia. Criou “Olhares Marginais”, que mais tarde se torna um Coletivo e o nome de uma exposição itinerante. Com o apoio de TdH Brasil, as fotografias chegaram a concorrer ao Prêmio Fotodoc, na categoria imagem destacada, com o registro de “Ainda de Pé”.

Suas lentes se voltam para onde muitos não olham: as ruas, as casas, o rio, o território do Bom Jardim. “Fotografia é paciência, é família. Depois que ouvi essa frase, comecei a voltar minha câmera pra minha família e pro meu bairro. A Reaver me fez enxergar a beleza do meu território. Porque é daqui que surgem as histórias incríveis.”

Nas fotos em preto e branco, que compõe a estética do trabalho mais recente de Inaiê —há denúncia, memória e afeto. “O Rio Maranguapinho literalmente me leva de volta pra casa. Ele me faz lembrar de onde eu vim. E a fotografia é uma forma de salvar o meu cotidiano, diariamente”, diz.

Hoje, entre Diêgo e Inaiê, existe um mesmo sonho: o de fazer da arte um caminho de transformação do coletivo. “Sonhar coletivamente é o que move tudo isso. Todo mundo que está na exposição está sonhando junto. E um jovem que saiu do interior tem o poder de sonhar e realizar — através da arte, da cultura e do acesso.”

Junte-se a nós e faça parte desta jornada!

A Rede Ambiental de Valorização de Ecossistemas em Restauração (Reaver) é o resultado da união de adolescentes e jovens do Nordeste que fortalecem a luta socioambiental, semeando o sonho de uma vida integrada com a natureza e o respeito à diversidade.

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